domingo, 27 de dezembro de 2009

feliz natal @@@


Era uma vez… há muitos muitos dias eu escrevi um texto sobre Fernão Capelo Gaivota. Apenas porque é um filme, palavras, música de vida para mim.
Resolvi partilhar neste Natal esses meus pensamentos e acrescentar-lhes algo.
Não tem nada a ver com o Natal? Tem sim!

É a história de uma gaivota, o seu sonho de voar. As suas asas são cantadas em céus de sonho e mares que se misturam. Nesse voo solitário mas divino, também eu estou, estamos todos nós.
A história de Fernão Capelo Gaivota – o mar, a ave que voa, a música – faz sonhar. Imagens e música são um hino à vida, um hino ao sonho, sobretudo à capacidade de sonhar, mesmo que se caia! E tantas vezes caímos! Tantas vezes nos levantamos! Temos essa capacidade enorme e bela de se ser louco!

Voar, querer ir sempre mais além, não ficar parado à espera que os deuses se dignem olhar-nos, sermos nós a pedir-lhes o sangue (que certamente eles retomarão) que nos tiram sempre que vivemos. É a mensagem da gaivota, símbolo de homens inteiros capazes de partir em busca do sonho e o mais importante não é o atingir do sonho – há sempre novos horizontes para descobrir quando chegamos à primeira linha. O segredo está sim nessa busca permanente, na luta às vezes dolorosa, mesmo que nunca cheguemos à linha do horizonte. O importante é partir, é buscar, é ter fé, acreditar que a vida é sempre mais além. Acreditar!

E sempre que acreditamos, é Natal! Sempre que nos levantamos depois da luta dolorosa, é Natal! Porque ressurgimos. Porque renascemos.
Porque somos vida a acontecer!
Natal é este ser capaz de ser louco em sonhos de humanidade!

Era uma vez… o Natal que acontece sempre que sonhamos.
Feliz Natal num sorriso @@@

domingo, 13 de dezembro de 2009

A árvore é altiva na sua solidão. Os seus contornos verde-negros recortam-se num céu nunca antes visto.
Há infinitos matizes azuis.
Há cinzentos variando entre o escuro e o pálido.
Há nuvens pintadas e disformes.
O vermelho é violento.
O sol raia neste amanhecer.

Tenho raiva das palavras a dizer.
Sacudo-me violenta neste acontecer de mim.
Os meus olhos assumem o escuro profundo de uma guerra a vencer.
Perdi-me em emoções tingidas de cinzento ora pálido ora escuro.
Violentei-me em palavras vermelhas de violência inaudita da desconstrução.
As nuvens, que percorriam esta paisagem que era eu, não eram brancas…
O sol raiava em cada manhã… um sol sem luz, fogo fátuo de mim.

(…)
O sol, num céu tingido de vermelho, é belo na manhã que raia em mim. Acaricia-me o corpo e aconchego-me nele. Sorrio ao amanhecer assim.
A minha sedução é este amanhecer em ti.

Sou lenta no acordar. Abro os olhos devagar. A urgência é grande. Quase corro.
É o meu canto dos silêncios e do ser eu. Olho o enorme espelho frente a mim. Nele há horas de pés descalços, de músicas a pautar. Horas de suor, de dor e de lágrimas às vezes. Há horas de cair e de levantar. Há horas de sorrisos e gargalhadas felizes.
Desnudo-me. Hoje a minha viagem é o prazer que procuro em ti.
A água percorre o meu corpo. Tem perfume de rosas a desabrochar. Tenho em mim o cheiro de terra molhada e sedenta depois do calor dormente.
Por entre almofadas de cores variadas, o rosto de menino adormecido, ainda inocente do meu querer, é pouso de raios de sol ainda tenros. A penumbra já se foi. A lua ainda é presença neste céu… sol e lua comungam por breves e raros momentos.

Suave, aconchego-me. A minha pele apetece uma outra. E há quase raiva nesta minha ânsia de me entranhar em ti, raiva funda de te abalar nas emoções de mim…raiva de tudo o que baila no meu corpo e me agita.
O teu abrir de olhos é surpresa… o teu sorriso é menino perante o meu querer.
E… sinto-me deusa e sinto-me virgem nas tuas e minhas emoções!
Bailo ante ti... serena na provocação! Ergo-me quase “gigante” no meu sorriso que te acolhe! Olho-te provocadora e desafiante... o meu sorriso tem a ternura e o desafio da conquista desejada.
Os meus olhos acariciam os teus no desejo de uma entrega que terás de conquistar! E eu sorrio de novo... de novo te percorro até à tua alma. E tu sorris na expectativa desejada. Talvez saibamos ambos que me terás... que talvez... talvez eu me abandone em ti... ambos sabemos que o caminho a percorrer tem de ser...
As minhas mãos são suaves no tocar-te... fechas os olhos nesse sentir imenso... abres de novo na tentativa de me tocar... e não! As minhas mãos continuam suaves e persistentes te percorrendo... têm apenas a direcção do sentir que te agita...
E a minha pele... o meu corpo agita-se... os teus olhos seguem-no na evolução do sentir... ora se mostra ora se esconde, ora vibra ora se acalma... perscrutas o que nele poderá vir... mas não! Ambos sabemos que há caminho a percorrer para lá chegar... que tem de ser!
Os meus lábios entreabertos jogam num movimento de descoberta... procuras o sabor... ainda não! O sorriso que nasce neles é quase entrega mas... ainda não!
E de novo fechas os olhos... para sentir! E os meus olhos, as minhas mãos, a minha pele, os meus lábios permitem agora o teu sentir! Lentamente a minha pele... todo o meu corpo se abre para ti... mas não! Há ainda caminho a percorrer...as tuas mãos são agora calor em todo o meu ser... encontram em mim a tua sede... o teu desejo! Os teus olhos têm agora a direcção dos meus... dos meus lábios... do sentir.... lentamente também elas me percorrem... e eu renasço nelas para sentir... o teu prazer!
E agora o meu corpo vibra ao calor do teu...
Falta agora o caminho a percorrer... e os nossos olhos juntos... os nossos lábios juntos... a nossa pele em conjunto....
Agora sim... fecho os olhos... abandono-me a ti e deixo-me invadir... sinto o teu prazer... sinto o meu prazer... e há caminho a fazer... fecho os olhos com força e sorrio feliz na entrega conquistada.

É o meu amanhecer!


terça-feira, 8 de dezembro de 2009

«Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!» José Régio, Cântico Negro



Olho um horizonte imenso! Uma lua vermelha projecta-se nos meus passos. Os meus olhos têm a cor dessa lua. É sangue, é dor, é raiva em mim.

Dizem-me «vem por aqui!» E dizem-me «Falo honestamente o que penso!»
Repetem, estendendo-me a falsa segurança de um abraço «estou aqui… anda… vem por aqui!»
E eu olho… nos meus olhos há a luz vermelha desta lua! Nos meus olhos, há ironia, cansaço, incredulidade, espanto! Ergo a minha vontade como bandeira ao vento e digo não vou por aí!
Não quero as palavras ocas de um não saber sentir. Não quero regras de não saber sonhar. Recuso caminhos feitos e liberdades vazias. Digo não a essa honestidade de ferir. Não quero palavras que matam como punhais – palavras tão sanguinárias como esta lua!

Eu tenho a minha loucura no sentir. Rasgo a vida como rasguei «o ventre de minha mãe». Amo os sorrisos e as rosas. Amo o vento que me devolve o sentir. Guardo na minha carne este saber o prazer. Sorrio aos caminhos verdes da luxúria, recuso os caminhos pardos do não saber sentir.

Não me digam «Vem por aqui!» Não me digam «pelo amor de Deus!» Não me falem em boas intenções! Os deuses estão nos céus demasiado ocupados com as suas quezílias. O inferno está cheio de boas intenções! Não me falem em coragem – quem ma dará?! A minha coragem está no sorriso com que me levanto todos os dias!

Não queiram que seja isto ou aquilo! Querem-me assim?! Querem-me o contrário de assim?! Tenham paciência! Eu sou, tu és! E tenho direito a ser! E sou o meu destino, sou a minha loucura, sou eu nas minhas dores, sou eu nos meus prazeres, nas escolhas que faço em cada momento. Sou o pecado, os meus pecados! E nunca pedirei perdão de gozar esse pecado que é a minha entrega. Sou filha de deus e do diabo, escolho os meus caminhos, sigo a minha loucura.

A lua vermelha é agora a luz que me ilumina. E, suavemente, as lágrimas deslizam no meu rosto. Tenho na mão uma cesta vazia. Por trás de mim há vozes. São as vozes de um aprendemos! São vozes de um «não vou por aí»! Uma a uma, as vozes chegam-me íntimas num olhar, num sorriso e em flores que vão enchendo o meu cesto. As palavras de um cântico negro são brancas na pureza do sentir. Todas diferentes, as flores têm três anos de comunhão, de lágrimas, de dor, de alegria, de partilha de sorrisos, de aconteceres, de um crescer sempre, têm o querer agarrar a vida no devir.

No meu rosto, as lágrimas brilham de felicidade sob a luz intensa do meu desnudar ali. E as minhas palavras nascem sob esta luz vermelha. Talvez eu… talvez tu e tu… façamos uma mudança no mundo…Talvez eu… talvez tu… encontremos a chave das estrelas e, quando olharmos o céu, só precisaremos de ouvir a voz do coração. Talvez eu… talvez tu… sejamos chama que ilumina. Talvez eu… talvez tu… sejamos a diferença no mundo a construir.

Levanto o meu cesto como um facho. O meu rosto, os meus olhos, o meu corpo enfrentam o vendaval que se levanta noutros olhares. A minha voz afirma a certeza «sei que não vou por aí!»
E sou feliz!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

entardecer @@@



Fecho os olhos com força. Enterro o corpo todo na areia quente. Espreguiço-me desejante. Tenho os olhos quentes deste pôr de sol muito vermelho na minha frente. Os acordes de um bolero longínquo envolvem-me num desejo tão único como o vermelho deste entardecer. A minha pele fervilha já não sei se do calor do sol se do desejo que se acende na minha carne.

O bolero cresce devagar. Aqui e ali os acordes anunciam a chegada de turbilhões de sons na harmonia desconcertada de uma dança de corpos em paixão.

Abro os olhos de repente. As suas mãos estão mais frescas do que a minha pele. Arqueio o corpo de prazer ao som da carícia. Ele ri-se. Rio-me nos seus olhos naquela espécie de timidez atrevida que nasce do desejo. Ele sabe, ele sente. Provoco-o na languidez do querer. Os nossos rostos tocam-se. Os meus lábios são suaves no percorrer da sua pele. Sussurro no seu ouvido, por entre os acordes ainda suaves do bolero, um apeteces-me. Olho-o. Gosto de ver nascer assim o desejo num homem. As minhas mãos percorrem a sua pele também quente de sol e desejo. O bolero entra em crescendo. Aqui e ali o meu toque é um agarrar a carne. Conquisto, lenta, o seu desejo e o meu prazer. Também ele busca em mim esse gozo único da posse.

O bolero cresce e cresce. A minha urgência é a sua urgência. Ora lento ora frenético os corpos tocam-se. Afastam-se num querer respirar. Logo se juntam no dar. Mãos, bocas, pés misturam-se na areia quente do entardecer. Agora o prazer não é lento. Agora a busca faz-se no crescendo da dança de um bolero de Ravel.

As ancas colam-se em movimentos quase frenéticos. Os corpos rolam no querer, cativos e senhores. As mãos soltam-se em desvairadas carícias. Cada vez mais forte, o bolero impõe-se em compassos de entrega ao prazer. O sol afunda-se cada vez mais no mar fervilhante de vermelho.

Abro os olhos para sentir o prazer. E os seus olhos nos meus são chama me querendo. A minha pele queima no receber. O bolero atinge os espasmos finais. Forte, como o ribombar de uma tempestade, os seus acordes entranham-se na carne. Fecho os olhos com força. Sinto o fogo que me invade. Quase grito. O som final do bolero invade tudo num atroar de tambores.

O sol é vermelho. Este silêncio súbito é vermelho. Este bolero tem a cor vermelha da paixão.

sábado, 15 de agosto de 2009

lembras? @@@



Com esta chuva e este vento é impossível deter as palavras que se atropelam na minha cabeça! Às vezes apetece-me gritar “pára meu coração, não penses! Deixa o pensar na cabeça!” Saboreio esta modorra da não urgência do fazer. E agora sim! Entrego-me ao prazer da memória da chuva a lavar-me a alma no corpo, no cabelo e na cara molhados! Entrego-me a este prazer físico total de a sentir no corpo assim... enrosco-me em mim e sorrio! Sorrio na memória do meu desafio infantil ao vento e às nuvens que parecem tocar-me tão carregadas que estão! E sou eu ali porque estou ali, porque quero estar ali!
E apetece-me estar confiante, acolher-me no seu seio e gritar “Ó céu! Ó chuva! Ó vento! Levando-me passai!” Esta é a chuva, este é o vento e esta sou eu!

As minhas mãos são pequenas, sabes?! Mas às vezes tenho a sensação de agarrar o mundo todo... e elas crescem em feitiço!

E a chuva bate agora forte e a catadupa de imagens minhas e tuas quase me sufocam!
E acendo um cigarro – já não fumava e agora, de vez em quando, o cigarro é apetecível – olho a chuva semicerrando os olhos. Agora não a vejo, apenas a sinto!
De novo sentada tenho na cabeça e nos meus sentidos em alerta aquele “era uma vez...” e perco-me na memória de vozes cadenciadas num ritmo milenar do contar a vida!

De novo me levanto. Hoje existo neste vento que arrasta a chuva! “Sei que posso nadar contigo... confio em ti os meus medos... sei que me trarás de volta à mansidão da praia... sinto-me aqui porto de abrigo seguro... és menino confiante no mar que te embala e que sou eu...! E depois serei eu buscante de porto seguro em ti... porque também eu sei que voltarei e aí sim... abandonar-me-ei então... sem amarras nem defesas... e serei eu também... rendida...

E, vento, em nós não haverá nunca nem antes nem depois. Apenas existiremos enquanto existirmos! Nesta ânsia infinita de ser que nos aproxima, nesta busca de ser tudo de todas as maneiras, revemo-nos e gostamos. E a nossa prisão só existirá enquanto for libertação! Só somos sendo e nada mais, enquanto a construção se faz, enquanto não se esgotar o tu e o eu! E aí talvez sejamos nós numa história de encantar, numa história de “Era uma vez... num reino muito distante... há muitos muitos anos...”, num tempo, num lugar, aí seremos nós!

Assim quero ser em ti. Ainda não desnudei o meu rosto do sorriso feiticeiro e olhar de encantar. Terás tu de o desnudar, terás tu de descobrir o feitiço, se fores capaz...! Terás tu de me fazer desejar o prazer que te quero dar...

num sorriso per te @@@

domingo, 19 de julho de 2009

Genesis

«No princípio criou Deus os céus e a terra.
E a terra era sem forma e vazia.
E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a luz.
E chamou Deus à porção seca Terra; e viu Deus que era bom.» Génesis in Bíblia

Tenho os olhos cheios desta terra amarela. Fati põe a música aos berros e dança ao volante a uma velocidade impensável em trilhos de cabras, dromedários e berberes. Dou gargalhada e danço também. Mas é quase impossível não bater com a cabeça no tejadilho do 4x4 neste caminho de pedras amarelas, cortado aqui e ali por ervas secas e rapadas de que não sei o nome. Todo o dia o amarelo da paisagem inundou-me os olhos – uma caverna onde morre a amada de um paciente inglês, caminhos de estrelas, casas amarelas de trogloditas com uma «plantação» de uma batata abrigada do sol amarelo por uma couve. Ali o verde teima em querer vingar nesta terra de areia. Trago na alma um bocado de pão molhado em azeite e um chá que queima, foram verbo em tempo de partilha.

A velocidade inebria-me e estonteia-me esta música que tem ritmo de lonjuras e a languidez do amarelo de um luxo decadente. De repente, Fati faz pião, eu grito. Pára e salta cá para fora. E o seu corpo grande e torrado pelo sol serpenteia em harmonia com aquela música. Não penso. Salto também e danço seguindo-lhe o ondear do corpo. Rio-me feliz nos olhos dele. Esqueço o amarelo por instantes e o ouro daquele sol invade-me numa carícia ardente. E é bom.

«E a terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a árvore frutífera, cuja semente está nela conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom.» Génesis in Bíblia

Caio ofegante no banco de trás. Hamid, o guia, também se ri e diz que esta terra amarela produz estes sorrisos em gente que procura o verde ansiado da vida. Não chove há quatro anos e as pedras esfarelam-se, às vezes, debaixo das rodas. E a terra surge redonda no horizonte e sempre amarela! Já não atento na música. Aqui e ali, na paisagem sem fim, recortam-se cabras e figuras negras ao lado de tendas rentes ao chão – abrigarão os seres viventes na noite que chegará vermelha em assobios de vento, trazendo dentro de si o frio tórrido da noite. Suspiro, cansada do amarelo e fecho os olhos. Relembro emoções, sinto os sorrisos de caras precocemente envelhecidas pelo sol.

Fati quase grita no aviso da chegada. Abro os olhos e fico perdida no verde. Por uma nesga vejo o céu, eternamente azul, emoldurado por esse verde luxuriante da vegetação. Pasmo perante palmares numa paisagem de sonho e o verde é gritante quando me fere os olhos habituados ao amarelo. A areia que piso é tão fina que se entranha na pele, a água é quente – sai do solo a cerca de quarenta graus. Não espero e, rapidamente, junto-me a outros nesta água onde o verde das palmeiras e o azul do céu se projectam numa simbiose única. O paraíso deve ser assim, é prazer nos olhos e na carne.
E a vida explode num oásis. E é bom.

«E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.
E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom
E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só.
E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher. E disse: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada (…) e serão ambos uma só carne.» Génesis in Bíblia

Preparo-me para o jantar. A roupa azul condiz com o ambiente. Na testa uma espécie de tiara também azul. Fati olha-me com espanto e faz uma vénia cómica. Olho este pôr de sol único e sempre vermelho. Os deuses marcaram a fogo esta terra e esta gente.

Céus! É tão belo! Alto, adivinha-se-lhe o corpo elástico e musculado sob as vestes negras. Na cabeça o litham também negro. Os olhos de um azul intenso brilham na pele quase negra do sol. Ali Babá e os quarenta ladrões! São eles que nos servirão o jantar. Sinto-me perdida no meu filme de cavaleiros de desertos encantados. A gruta que se abre é esta música e estes archotes que iluminam um mundo novo.
E o meu Ali Babá sorri-me. E a magia perde-se em dentes negros de alimentos picantes que ajudam a suportar temperaturas inimagináveis para mim. Esqueço rapidamente esse sorriso e concentro-me nos seus olhos. Têm a sensualidade da areia quente no corpo.

Na noite, sento-me com ele, lado a lado, olhando estrelas que nunca vi. Não falamos – mesmo a doçura da língua francesa seria empecilho no partilhar de um céu assim. Ele apenas me sorri com os olhos quando me fita. E o azul brilha intenso na noite. Fixo um horizonte que ainda não entendi. Deixo-me envolver pela noite de um homem do deserto. A meus pés, a extensão da areia é tão infinita como este céu que me inunda.

«E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam.» Génesis in Bíblia

Sou mulher. O homem a meu lado tem a vastidão do deserto de areia branca e do negro das suas vestes. Dá-me a mão. Sinto o seu pulsar. E, lentamente, a minha respiração repousa na dele. Deixo-me existir assim, sentir o que nunca senti. Não quero perturbar este silêncio de vida na noite e na paz das estrelas. Quem és tu? Que vida a tua? Que língua me falas? Que canção trazes tu neste teu seduzir-me? Que noites? Que céus? Que estrelas me prometes? Desnudas-te! Desnudo-me! E na noite do oásis, a alma grita a vida que corre frenética na sua evidência.
E é bom.
Estendes-me a outra mão, nela uma rosa do deserto: é areia e sal. É vida!
Voltarei.

sábado, 27 de junho de 2009



«Aquela cativa
Que me tem cativo,
(…)
Pera ser senhora
De quem é cativa.» Luís de Camões


Solto as fitas do cabelo preso em horas de luta.
Olho o enorme espelho frente a mim. Estou, finalmente, só.
O meu cabelo húmido e as pérolas de suor no meu rosto reflectem as horas de esforço. Sacudo a cabeça de novo. Os cabelos volteiam. Alguns colam-se na minha face. E a leve brisa que desprendem, sabe-me bem – é frescura. Os meus olhos estão mais escuros e brilhantes no contraste das paredes claras reflectidas no espelho. Como que reflectem a cor negra das minhas calças e teeshirt.

Sento-me, lentamente, no chão. O meu corpo foi levado quase até à exaustão, até àquele não mais poder e, no entanto, continuar. São os músculos treinados até ao seu ponto máximo de elasticidade. Tiro as sapatilhas e acaricio os meus pés húmidos na necessidade de os libertar do cansaço. Deito-me devagarinho. Preciso ganhar alento para o que virá. Estendo-me ao comprido no chão – a sua frescura é prazer em mim, aquele prazer no corpo que me chega à alma. Cabeça ligeiramente inclinada para a esquerda, braços ao longo do corpo, palmas das mãos viradas para cima, fecho os olhos. Respiro suave e conscientemente. Depois, é o soltar de todos os músculos, libertar as amarras que os prendem. O ritmo do meu corpo assim torna-se lento – o compasso do coração é pausado. Esqueço o mundo todo. Esqueço-me de mim.

O meu abrir os olhos, o sentar-me, têm o ritmo do pulsar controlado da vida. É a hora! De novo os meus olhos no espelho! A imagem devolvida é de um olhar fundo do meu querer ser. Todos os meus movimentos são estudados na sua lentidão – preparo a minha aparição!

E a música começa devagar. No rosto, o chão é, novamente, frescura apetecida. Os meus olhos bem abertos fitam direcção nenhuma. Toda eu vivo por dentro no sentir o sonho que é a canção que danço, o sonho que és tu em mim. Suave deslizo. O meu corpo ondula no sabor lento de um perfume. São as suas ondas que fazem este frémito que me chega pelas narinas e se entranha na minha pele. Os meus lábios entreabrem-se. É o respirar das tuas mãos percorrendo o meu corpo.

No meu levantar estão as notas longas de um piano sempre presente, o imenso fluir de um violoncelo, o gemer lânguido de um violino. Os meus pés nus percorrem o chão em voltas ora rápidas ora lentas no acompanhar de uma música per te. O meu pescoço, as minhas mãos, as minhas ancas, movem-se no compasso da música das tuas mãos. Movem-se na direcção que lhes dás no teu tocar-me. Nas tuas mãos estão as minhas noites de serenidade – o meu corpo evolui lento. Nas tuas mãos o meu prazer – giro per te. Olho-te. Os meus olhos têm a direcção dos teus. O meu olhar tem tudo o que baila em mim de ti.

E a música eleva-se, surge mais rápida no hino cantado a duas vozes. E eu rodo no chegar até ti – é o querer-te no meu corpo que se abre, enfim, ao teu querer. A música fala da calma de estar assim em ti e tu surges-me em amanheceres de luas redondas e sóis vermelhos. A música fala-me ainda desta dança do sonho que és tu sempre presente e sempre a cativar.
Giro imensa no meu sonhar-te. A música entra no decrescendo de um final… e o meu corpo segue-a nos acordes mais lentos. O meu rosto aproxima-se do chão que me acolhe. Pouso lenta. Fecho os olhos no sentir dos meus cabelos molhados. E a paz instala-se.
A minha dança teve uma lua, as minhas voltas as tuas mãos me querendo, os meus pés um sol imenso me acariciando, os meus olhos a serenidade em horas de paixão! É a minha aparição! Per te este meu ser senhora de quem sou cativa!

Olho o mundo à minha volta! Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii tanta gente! Olhares emudecidos e sorridentes fitam-me… coro até à raiz dos cabelos. Aqueles olhares conhecem-me, mas não me sabem em horas de um per te!

@@@

@@@

este é o meu blog
gosto de rosas e sorrisos
@@@




Click Aqui - Recados Para Orkut