sábado, 27 de junho de 2009



«Aquela cativa
Que me tem cativo,
(…)
Pera ser senhora
De quem é cativa.» Luís de Camões


Solto as fitas do cabelo preso em horas de luta.
Olho o enorme espelho frente a mim. Estou, finalmente, só.
O meu cabelo húmido e as pérolas de suor no meu rosto reflectem as horas de esforço. Sacudo a cabeça de novo. Os cabelos volteiam. Alguns colam-se na minha face. E a leve brisa que desprendem, sabe-me bem – é frescura. Os meus olhos estão mais escuros e brilhantes no contraste das paredes claras reflectidas no espelho. Como que reflectem a cor negra das minhas calças e teeshirt.

Sento-me, lentamente, no chão. O meu corpo foi levado quase até à exaustão, até àquele não mais poder e, no entanto, continuar. São os músculos treinados até ao seu ponto máximo de elasticidade. Tiro as sapatilhas e acaricio os meus pés húmidos na necessidade de os libertar do cansaço. Deito-me devagarinho. Preciso ganhar alento para o que virá. Estendo-me ao comprido no chão – a sua frescura é prazer em mim, aquele prazer no corpo que me chega à alma. Cabeça ligeiramente inclinada para a esquerda, braços ao longo do corpo, palmas das mãos viradas para cima, fecho os olhos. Respiro suave e conscientemente. Depois, é o soltar de todos os músculos, libertar as amarras que os prendem. O ritmo do meu corpo assim torna-se lento – o compasso do coração é pausado. Esqueço o mundo todo. Esqueço-me de mim.

O meu abrir os olhos, o sentar-me, têm o ritmo do pulsar controlado da vida. É a hora! De novo os meus olhos no espelho! A imagem devolvida é de um olhar fundo do meu querer ser. Todos os meus movimentos são estudados na sua lentidão – preparo a minha aparição!

E a música começa devagar. No rosto, o chão é, novamente, frescura apetecida. Os meus olhos bem abertos fitam direcção nenhuma. Toda eu vivo por dentro no sentir o sonho que é a canção que danço, o sonho que és tu em mim. Suave deslizo. O meu corpo ondula no sabor lento de um perfume. São as suas ondas que fazem este frémito que me chega pelas narinas e se entranha na minha pele. Os meus lábios entreabrem-se. É o respirar das tuas mãos percorrendo o meu corpo.

No meu levantar estão as notas longas de um piano sempre presente, o imenso fluir de um violoncelo, o gemer lânguido de um violino. Os meus pés nus percorrem o chão em voltas ora rápidas ora lentas no acompanhar de uma música per te. O meu pescoço, as minhas mãos, as minhas ancas, movem-se no compasso da música das tuas mãos. Movem-se na direcção que lhes dás no teu tocar-me. Nas tuas mãos estão as minhas noites de serenidade – o meu corpo evolui lento. Nas tuas mãos o meu prazer – giro per te. Olho-te. Os meus olhos têm a direcção dos teus. O meu olhar tem tudo o que baila em mim de ti.

E a música eleva-se, surge mais rápida no hino cantado a duas vozes. E eu rodo no chegar até ti – é o querer-te no meu corpo que se abre, enfim, ao teu querer. A música fala da calma de estar assim em ti e tu surges-me em amanheceres de luas redondas e sóis vermelhos. A música fala-me ainda desta dança do sonho que és tu sempre presente e sempre a cativar.
Giro imensa no meu sonhar-te. A música entra no decrescendo de um final… e o meu corpo segue-a nos acordes mais lentos. O meu rosto aproxima-se do chão que me acolhe. Pouso lenta. Fecho os olhos no sentir dos meus cabelos molhados. E a paz instala-se.
A minha dança teve uma lua, as minhas voltas as tuas mãos me querendo, os meus pés um sol imenso me acariciando, os meus olhos a serenidade em horas de paixão! É a minha aparição! Per te este meu ser senhora de quem sou cativa!

Olho o mundo à minha volta! Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii tanta gente! Olhares emudecidos e sorridentes fitam-me… coro até à raiz dos cabelos. Aqueles olhares conhecem-me, mas não me sabem em horas de um per te!

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este é o meu blog
gosto de rosas e sorrisos
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