@aeriene@
domingo, 28 de abril de 2013
Guerra e paz
Durantes um mês, preparei a guerra. Não sabia que estava a preparar, também, a paz. Há um filósofo que diz que tudo existe pelo seu contrário: só conhecemos a alegria, porque existe a tristeza, o sim existe no não. Não há paz sem guerra.
Durante anos, aprendi que fazemos escolhas em cada momento, escolhemos olhar ou escolhemos ver. E, em cada escolha, estamos sempre sozinhos, é essa a condição humana. E nunca saberemos se a outra opção, aquela que não escolhemos, seria melhor.
É a minha primeira batalha. Interrogo-me quantas batalhas terei de ganhar para chegar ao fim da guerra. Tenho um medo enorme de sofrer. Preparo todas as armas, elimino possíveis inimigos, qual estratega na hora da luta. Durante esse mês, corpo e mente preparam-se para lutas infindáveis de desejos e tentações. “E livrai-nos das tentações”, não há deus que me valha! É muito fácil culpar os deuses das nossas derrotas, ou agradecer-lhes as nossas vitórias. O meu caminho é mais difícil, mas sou eu que escolho. Vou sofrer mais? Talvez, mas o prazer será muito maior!
Levanto-me com o medo da luta, mas vou em frente. Mergulho na piscina e nado com força, o meu corpo agradece a água como um conforto. A minha alma serena no cansaço do nadar rápido. A caminhada aquece-me no dia frio de janeiro e eu sorrio, a primeira batalha está ganha.
Muitos dias se seguem e, cada vez mais serena, as minhas vitórias espelham-se na minha pele, sedenta de uma vivência diferente. Sou cada vez mais senhora de mim. O meu sorriso tem mais cor, o meu corpo afina-se na sedução, o meu olhar é brilhante. E cada batalha, em cada dia, dá-me a força para continuar. Às vezes dói, dói tanto! Mas são minutos, depois é a paz! Esta já ganhei! Haverá mais batalhas, mais dores! Haverá mais paz!
Hoje cruzo-me com uma colega. Rio-me para ela:
- Este ano, os nosso horários são tão diferentes! Já tinha saudades tuas.
Ela olha-me agradada.
- Estás tão bonita!
- Ah, fui ao cabeleireiro, deve ser isso!
- Não. É a tua pele! Tão transparente, tão branquinha! Fizeste uma limpeza?
- Não! Deixei de fumar!
@@@
sábado, 1 de janeiro de 2011
feliz ano novo @@@
Amanhã… é bom! (perdoem-me o erro de sintaxe)
Todos os anos renovamos intenções.
Todos os anos dizemos vou ser isto ou aquilo.
Todos os anos queremos mudar.
Todos os anos sonhamos novas formas de vida.
Todos os anos, nesta altura, fazemos balanço do que fomos e do que não fomos. E amanhã, dizemos nós, será diferente!
É sempre diferente! Somos seres em constante mudança! Às vezes, sorrimos e dizemos yesssssssssssssss é bom! Outras vezes choramos e gritamos o não termos conseguido.
Não faz mal! É preciso que continuemos a sonhar. É preciso que continuemos a tentar mudar! É essa a permanente construção. Porque estamos vivos e é bom!
Caímos? Tenhamos força para nos levantarmos! E será bom esse levantar doloroso!
Somos imperfeitos? Somos humanos! Os deuses estão nos céus e são eles as criaturas perfeitas.
Afirmo sempre, em cada instante, o meu direito de errar. E digo amanhã não voltarei a fazer isto. E faço! E caio! E tento de novo!
Sou Sísifo que arrasta a pedra até ao alto da montanha e está quase quase lá a chegar e a pedra rola pela montanha abaixo. E ele vai buscá-la e tenta de novo. Tal como Sísifo, todos os dias o meu sorriso tem a coragem de Sísifo no querer ir sempre mais além.
A minha coragem e o meu ser feliz é este sorriso com que me levanto todos os dias.
Feliz Ano Novo num sorriso @@@
domingo, 26 de dezembro de 2010
porque é natal @@@
Era uma vez… há muitos muitos dias eu escrevi um texto sobre Fernão Capelo Gaivota. Apenas porque é um filme, palavras, música de vida para mim.
Resolvi partilhar neste Natal esses meus pensamentos e acrescentar-lhes algo.
Não tem nada a ver com o Natal? Tem sim!
É a história de uma gaivota, o seu sonho de voar. As suas asas são cantadas em céus de sonho e mares que se misturam. Nesse voo solitário mas divino, também eu estou, estamos todos nós.
A história de Fernão Capelo Gaivota – o mar, a ave que voa, a música – faz sonhar. Imagens e música são um hino à vida, um hino ao sonho, sobretudo à capacidade de sonhar, mesmo que se caia! E tantas vezes caímos! Tantas vezes nos levantamos! Temos essa capacidade enorme e bela de se ser louco!
Voar, querer ir sempre mais além, não ficar parado à espera que os deuses se dignem olhar-nos, sermos nós a pedir-lhes o sangue (que certamente eles retomarão) que nos tiram sempre que vivemos. É a mensagem da gaivota, símbolo de homens inteiros capazes de partir em busca do sonho e o mais importante não é o atingir do sonho – há sempre novos horizontes para descobrir quando chegamos à primeira linha. O segredo está sim nessa busca permanente, na luta às vezes dolorosa, mesmo que nunca cheguemos à linha do horizonte. O importante é partir, é buscar, é ter fé, acreditar que a vida é sempre mais além. Acreditar!
E sempre que acreditamos, é Natal! Sempre que nos levantamos depois da luta dolorosa, é Natal! Porque ressurgimos. Porque renascemos.
Porque somos vida a acontecer!
Natal é este ser capaz de ser louco em sonhos de humanidade!
Era uma vez… o Natal que acontece sempre que sonhamos.
Feliz Natal num sorriso @@@
domingo, 7 de março de 2010
hoje eu dispenso a minha rosa @@@
Hoje eu dispenso a minha rosa. Não quero rosas em data marcada. Quero rosas todos os dias e todos os dias parabéns por ser mulher. Não quero rosas que sabem a sangue de uma luta milenar. Hoje sou mulher como todos os dias. E em cada dia luto por esta minha liberdade de ser fêmea. Todos os dias afirmo este meu ser feminina, mas não sou feminista. Até na gramática o masculino impera! Tenho três raparigas e um rapaz na minha frente e tenho de dizer eles. Dispenso um mundo onde é necessário o feminismo. Não quero esse mundo onde se morre porque se é mulher!
Gosto de usar saltos altos, gosto de pintar as unhas dos pés com flores, e das mãos também. Gosto de pôr madeixas coloridas no meu cabelo. Gosto dos meus sutiens, das minhas saias minis, dos meus brincos coloridos e das minhas pulseiras, gosto de bambolear as ancas no meu bikini quando vou ao mar. Gosto de usar calças que me dão a liberdade no mexer e me marcam ancas e pernas. Gosto de pôr um baton e seduzir o companheiro ao meu lado. Gosto de rir às gargalhadas com uma boa anedota. Quero continuar a chorar como uma madalena quando vejo um filme que me emociona. Gosto daquele meu vestido negro que nada revela e tudo sugere, adoro pôr a imaginação de um homem a trabalhar. Gosto de seduzir um homem.
Ah! Eu gosto de homens. Homens que são masculinos por inteiro e não entram em competição comigo. Gosto que um homem me admire, que me abra a porta do carro, que me sirva o vinho num jantar a dois. Gosto de um homem que me ofereça uma rosa bem vermelha porque sim num dia qualquer. Gosto de homens que me saibam dizer gosto de ti mulher.
Hoje eu dispenso a minha rosa. Vou dá-la a um homem que saiba tratar-me como mulher.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
na calada do amanhecer @@@
Nunca seremos condenados pelo gostar, pelo sonhar, pelo menos não desta maneira. Já houve sonhos condenados, já houve um gostar proibido. Mas agora não! Aliás digo sempre, nunca, mas nunca, pedirei perdão de gozar o prazer e tornar a dar de mim. É a letra de uma canção, mas tomo como minhas estas palavras. E eu aprendi a sonhar e a gostar em liberdade.
Sorrio na manhã que começa calada e se vai enchendo dos ruídos da vida. E penso na noite que vives dentro de ti. Sorrio à tua imagem inventando, na calada da noite, palavras que extravasem um sentir mágico de sensações na alma que te chegam ao corpo num prazer nunca definido. Porque não me sabes ainda. Porque ainda não sabes o que é um mar sem praias.
E há sensações, há um sentir, que são únicos dentro de nós, mas são sublimes quando partilhados. E aí procuramos o prazer vão de outras palavras, que nos deixam insatisfeitos, esgotados, porque procuramos nelas o sentir único de um outro que desejamos. E na noite desvairada, procuramos esse prazer e depois quase gritamos na dor infinda do não ser. Não!!! Não te percas no desvario de um desejo que não controlas! Porque na noite, apesar de partilhas desvairadas de palavras, estás só, só na carne que clama pelo prazer que sentes na alma!
Também eu já não sei, não sei nada… sei que trago no corpo sorrisos únicos! E nos meus sorrisos de alma farei com que te abandones em mim! Na hora do prazer não há timidez, há um querer bruto e fero de tanto sonhar! E o mar cobrirá a praia naquela hora entre a lua e o sol, hora fugaz de vida sonhada. É o momento dentro de nós.
E a minha rosa negra ficará tatuada em ti no sorriso que esboçarás na calada da noite. Eu terei um sorriso único na calada de um amanhecer.
Sorrio na manhã que começa calada e se vai enchendo dos ruídos da vida. E penso na noite que vives dentro de ti. Sorrio à tua imagem inventando, na calada da noite, palavras que extravasem um sentir mágico de sensações na alma que te chegam ao corpo num prazer nunca definido. Porque não me sabes ainda. Porque ainda não sabes o que é um mar sem praias.
E há sensações, há um sentir, que são únicos dentro de nós, mas são sublimes quando partilhados. E aí procuramos o prazer vão de outras palavras, que nos deixam insatisfeitos, esgotados, porque procuramos nelas o sentir único de um outro que desejamos. E na noite desvairada, procuramos esse prazer e depois quase gritamos na dor infinda do não ser. Não!!! Não te percas no desvario de um desejo que não controlas! Porque na noite, apesar de partilhas desvairadas de palavras, estás só, só na carne que clama pelo prazer que sentes na alma!
Também eu já não sei, não sei nada… sei que trago no corpo sorrisos únicos! E nos meus sorrisos de alma farei com que te abandones em mim! Na hora do prazer não há timidez, há um querer bruto e fero de tanto sonhar! E o mar cobrirá a praia naquela hora entre a lua e o sol, hora fugaz de vida sonhada. É o momento dentro de nós.
E a minha rosa negra ficará tatuada em ti no sorriso que esboçarás na calada da noite. Eu terei um sorriso único na calada de um amanhecer.
madrugada @@@
Há mil e uma madrugadas…
Chego entre a lua e o sol nascente
Serena e lenta num buscar de ti
Na minha pele um sorriso quente
Trago na carne desejos anelantes
Trago no corpo a rendição
Sou fogo em hora de paixão
Sou barco em ondas desejantes
Sou em ti o desejo procurado
Sou a palavra no poema encontrado
Sou o sonho do deleite a acontecer
Sou o corpo rendido num perder
E são tantas as rosas em desejos de um amanhecer… @@@
Chego entre a lua e o sol nascente
Serena e lenta num buscar de ti
Na minha pele um sorriso quente
Trago na carne desejos anelantes
Trago no corpo a rendição
Sou fogo em hora de paixão
Sou barco em ondas desejantes
Sou em ti o desejo procurado
Sou a palavra no poema encontrado
Sou o sonho do deleite a acontecer
Sou o corpo rendido num perder
E são tantas as rosas em desejos de um amanhecer… @@@
domingo, 14 de fevereiro de 2010
carne vale @@@
Esta sou eu num carne vale. Com vinte anos a vida tem um sabor que só muito mais tarde descobrimos. Os vinte anos são sempre arrojados! Temos o mundo todo nas mãos. Num intercâmbio de faculdades, fui uns dias para a minha cidade de acolhimento!!! Paris é sempre diferente seja em que altura for. Mas eu conheço-lhe os cheiros, as ruelas, os bas-fond, as pequenas tavernas de comer barato entre vadios, estudantes sem dinheiro como eu, mulheres sem rumo! A pimenta dos pratos não se compara ao picante da vida aí. Somos quatro jovens cheios de fome. Entre risos por tudo e por nada, decidimos: este ano vamos dançar no carnaval. Amanhã será dia de festa numa discoteca brasileira! Eu ri-me. Temos sempre saudades da música da casa mesmo quando o cantar tem outra toada! Pedro avisa-me sobre o meu vestir. A casa onde vamos exige um vestir mascarado a primor, mas garante que vale a pena! Francisca garante que estará no seu ambiente – ela é sempre sofisticada!
Eu rio-me por dentro. Tenho planos feitos há meses. Sei que um ele especial estará lá. Não saberá nunca quem sou. Será meu cavaleiro andante por uma noite, porque assim o decidi. A sedução começará no meu saber estar nessa noite. Sou muito simples no vestir, calças de ganga metidas dentro das botas no inverno, calças à pirata, minissaias, sapatilhas. Mas também gosto da sofisticação de vez em quando.
Mas esta noite não. Francisca olha surpresa para o meu vestido negro estendido sobre a cama. É lindo! Tem um corte tão diferente! Eu sei e mostro-lhe a minha máscara, cobre-me quase todo o rosto e tem uma rosa negra de lado. Mostro-lhe também a minha écharpe negra com pequenas rosas vermelhas que a salpicam e que dão um tom quase estridente ao vestido.
- Jura, Francisca, jura que nunca dirás quem eu sou. Os outros dois também saberão, mas eles já prometeram e eu confio. – Tens planos, não é verdade? Sim, tenho planos para uma noite. Tenho vinte anos e quero conhecer o sabor de um homem. Quero saber o prazer na carne. Mas não digo isto em voz alta. Ela não entenderia. – Juro! Diz ela numa vénia cómica. Eu rio-me.
Sei que não sou bonita, mas sei que sou diferente. Sei do que sou capaz! E aos vinte anos as certezas são enormes. Sei que serei capaz de o atrair, de ser mulher, de ser fêmea à conquista e esta noite será minha. O meu corpo expande-se no querer, neste desejo de dentro que se sente por onde passo. Não me interessa! Esta sou eu em noite de carne vale.
Depois? Depois não interessa, desde que eu mantenha os meus pés na terra. Vou fazer como os meus amigos cubanos dizem, mañana es mañana. Carpe diem, neste caso, a noite e ela é minha.
Diante do espelho sorrio à minha imagem! O cabelo apanhado e escondida a cara na máscara. Tenho paillettes prateadas no corpo todo. O perfume é leve e insolente. O ligeiro toque de batom brilhante na minha boca condiz com as rosinhas vermelhas na minha écharpe. Levo sandálias negras também, leves para eu poder saltar à vontade.
Francisca nem quer acreditar. Tu devias andar mais vezes assim. Pois sim, desde que seja carnaval, rio-me. Os nossos dois acompanhantes ficam pasmados a olhar-me. És mesmo tu? Sou, sou eu em noite de carne vale. Coitado daquele que te quiser esta noite! Eu sorrio e nada digo.
As músicas sucedem-se. Atingi o meu alvo num ápice. Francisca ria-se dos olhos dele brilhantes quando me olhava. O meu amigo já nem repetia eu disse, eu disse. Dói-me os pés das sandálias. Mas hoje tudo é permitido né?
E, de repente, a lambada surge nos corpos suados e brilhantes! O meu batman já não esconde a sua cara. Quer conhecer a minha! A lambada que dançamos deixa-o quase louco! Eu rio-me feliz. Tiro as sandálias e o chão mais fresco é prazer nos pés em fogo. As nossas ancas tocam-se nessa lambada suada. Rindo, o batman diz-me que não me quer cinderela. Não sou cinderela e o meu corpo mostra-lhe o meu agrado. Ele agarra a minha mão e o beijo é intenso e demorado!
Súbito, deixo a lambada. Pego nas sandálias e fujo correndo! Francisca corre atrás de mim. Então?!!! Deixaste pelo menos uma sandália?!!! Abraço-a e num tom cómico trágico grito-lhe bem alto: ele virou sapo!!! Vamos dormir? Já não aguento os meus pés, o som da lambada e o cheiro do tabaco! E a minha língua sabe a papel de música.
No dia seguinte, ela esperava o meu acordar. Conta depressa o que se passou, quero saber tudo direitinho. Eu rio-me. Não estou triste nem desiludida. Um dia eu serei mulher para um homem e não vou precisar nem de máscara, nem de um vestido negro nem que seja dia de carne vale.
Nos dias que faltaram para o meu regresso, passava muitas vezes pelo batman. Ele olhava-me estranho às vezes. Eu pensava que ele era mesmo um sapo. Ficou-me a recordação de poder ter sido cinderela numa história que não encantaria ninguém.
Outro dia, talvez eu conte uma história de encantar com sapos que são príncipes e com belas que são mesmo belas. E sem esquecer que qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.
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