domingo, 27 de dezembro de 2009

feliz natal @@@


Era uma vez… há muitos muitos dias eu escrevi um texto sobre Fernão Capelo Gaivota. Apenas porque é um filme, palavras, música de vida para mim.
Resolvi partilhar neste Natal esses meus pensamentos e acrescentar-lhes algo.
Não tem nada a ver com o Natal? Tem sim!

É a história de uma gaivota, o seu sonho de voar. As suas asas são cantadas em céus de sonho e mares que se misturam. Nesse voo solitário mas divino, também eu estou, estamos todos nós.
A história de Fernão Capelo Gaivota – o mar, a ave que voa, a música – faz sonhar. Imagens e música são um hino à vida, um hino ao sonho, sobretudo à capacidade de sonhar, mesmo que se caia! E tantas vezes caímos! Tantas vezes nos levantamos! Temos essa capacidade enorme e bela de se ser louco!

Voar, querer ir sempre mais além, não ficar parado à espera que os deuses se dignem olhar-nos, sermos nós a pedir-lhes o sangue (que certamente eles retomarão) que nos tiram sempre que vivemos. É a mensagem da gaivota, símbolo de homens inteiros capazes de partir em busca do sonho e o mais importante não é o atingir do sonho – há sempre novos horizontes para descobrir quando chegamos à primeira linha. O segredo está sim nessa busca permanente, na luta às vezes dolorosa, mesmo que nunca cheguemos à linha do horizonte. O importante é partir, é buscar, é ter fé, acreditar que a vida é sempre mais além. Acreditar!

E sempre que acreditamos, é Natal! Sempre que nos levantamos depois da luta dolorosa, é Natal! Porque ressurgimos. Porque renascemos.
Porque somos vida a acontecer!
Natal é este ser capaz de ser louco em sonhos de humanidade!

Era uma vez… o Natal que acontece sempre que sonhamos.
Feliz Natal num sorriso @@@

domingo, 13 de dezembro de 2009

A árvore é altiva na sua solidão. Os seus contornos verde-negros recortam-se num céu nunca antes visto.
Há infinitos matizes azuis.
Há cinzentos variando entre o escuro e o pálido.
Há nuvens pintadas e disformes.
O vermelho é violento.
O sol raia neste amanhecer.

Tenho raiva das palavras a dizer.
Sacudo-me violenta neste acontecer de mim.
Os meus olhos assumem o escuro profundo de uma guerra a vencer.
Perdi-me em emoções tingidas de cinzento ora pálido ora escuro.
Violentei-me em palavras vermelhas de violência inaudita da desconstrução.
As nuvens, que percorriam esta paisagem que era eu, não eram brancas…
O sol raiava em cada manhã… um sol sem luz, fogo fátuo de mim.

(…)
O sol, num céu tingido de vermelho, é belo na manhã que raia em mim. Acaricia-me o corpo e aconchego-me nele. Sorrio ao amanhecer assim.
A minha sedução é este amanhecer em ti.

Sou lenta no acordar. Abro os olhos devagar. A urgência é grande. Quase corro.
É o meu canto dos silêncios e do ser eu. Olho o enorme espelho frente a mim. Nele há horas de pés descalços, de músicas a pautar. Horas de suor, de dor e de lágrimas às vezes. Há horas de cair e de levantar. Há horas de sorrisos e gargalhadas felizes.
Desnudo-me. Hoje a minha viagem é o prazer que procuro em ti.
A água percorre o meu corpo. Tem perfume de rosas a desabrochar. Tenho em mim o cheiro de terra molhada e sedenta depois do calor dormente.
Por entre almofadas de cores variadas, o rosto de menino adormecido, ainda inocente do meu querer, é pouso de raios de sol ainda tenros. A penumbra já se foi. A lua ainda é presença neste céu… sol e lua comungam por breves e raros momentos.

Suave, aconchego-me. A minha pele apetece uma outra. E há quase raiva nesta minha ânsia de me entranhar em ti, raiva funda de te abalar nas emoções de mim…raiva de tudo o que baila no meu corpo e me agita.
O teu abrir de olhos é surpresa… o teu sorriso é menino perante o meu querer.
E… sinto-me deusa e sinto-me virgem nas tuas e minhas emoções!
Bailo ante ti... serena na provocação! Ergo-me quase “gigante” no meu sorriso que te acolhe! Olho-te provocadora e desafiante... o meu sorriso tem a ternura e o desafio da conquista desejada.
Os meus olhos acariciam os teus no desejo de uma entrega que terás de conquistar! E eu sorrio de novo... de novo te percorro até à tua alma. E tu sorris na expectativa desejada. Talvez saibamos ambos que me terás... que talvez... talvez eu me abandone em ti... ambos sabemos que o caminho a percorrer tem de ser...
As minhas mãos são suaves no tocar-te... fechas os olhos nesse sentir imenso... abres de novo na tentativa de me tocar... e não! As minhas mãos continuam suaves e persistentes te percorrendo... têm apenas a direcção do sentir que te agita...
E a minha pele... o meu corpo agita-se... os teus olhos seguem-no na evolução do sentir... ora se mostra ora se esconde, ora vibra ora se acalma... perscrutas o que nele poderá vir... mas não! Ambos sabemos que há caminho a percorrer para lá chegar... que tem de ser!
Os meus lábios entreabertos jogam num movimento de descoberta... procuras o sabor... ainda não! O sorriso que nasce neles é quase entrega mas... ainda não!
E de novo fechas os olhos... para sentir! E os meus olhos, as minhas mãos, a minha pele, os meus lábios permitem agora o teu sentir! Lentamente a minha pele... todo o meu corpo se abre para ti... mas não! Há ainda caminho a percorrer...as tuas mãos são agora calor em todo o meu ser... encontram em mim a tua sede... o teu desejo! Os teus olhos têm agora a direcção dos meus... dos meus lábios... do sentir.... lentamente também elas me percorrem... e eu renasço nelas para sentir... o teu prazer!
E agora o meu corpo vibra ao calor do teu...
Falta agora o caminho a percorrer... e os nossos olhos juntos... os nossos lábios juntos... a nossa pele em conjunto....
Agora sim... fecho os olhos... abandono-me a ti e deixo-me invadir... sinto o teu prazer... sinto o meu prazer... e há caminho a fazer... fecho os olhos com força e sorrio feliz na entrega conquistada.

É o meu amanhecer!


terça-feira, 8 de dezembro de 2009

«Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!» José Régio, Cântico Negro



Olho um horizonte imenso! Uma lua vermelha projecta-se nos meus passos. Os meus olhos têm a cor dessa lua. É sangue, é dor, é raiva em mim.

Dizem-me «vem por aqui!» E dizem-me «Falo honestamente o que penso!»
Repetem, estendendo-me a falsa segurança de um abraço «estou aqui… anda… vem por aqui!»
E eu olho… nos meus olhos há a luz vermelha desta lua! Nos meus olhos, há ironia, cansaço, incredulidade, espanto! Ergo a minha vontade como bandeira ao vento e digo não vou por aí!
Não quero as palavras ocas de um não saber sentir. Não quero regras de não saber sonhar. Recuso caminhos feitos e liberdades vazias. Digo não a essa honestidade de ferir. Não quero palavras que matam como punhais – palavras tão sanguinárias como esta lua!

Eu tenho a minha loucura no sentir. Rasgo a vida como rasguei «o ventre de minha mãe». Amo os sorrisos e as rosas. Amo o vento que me devolve o sentir. Guardo na minha carne este saber o prazer. Sorrio aos caminhos verdes da luxúria, recuso os caminhos pardos do não saber sentir.

Não me digam «Vem por aqui!» Não me digam «pelo amor de Deus!» Não me falem em boas intenções! Os deuses estão nos céus demasiado ocupados com as suas quezílias. O inferno está cheio de boas intenções! Não me falem em coragem – quem ma dará?! A minha coragem está no sorriso com que me levanto todos os dias!

Não queiram que seja isto ou aquilo! Querem-me assim?! Querem-me o contrário de assim?! Tenham paciência! Eu sou, tu és! E tenho direito a ser! E sou o meu destino, sou a minha loucura, sou eu nas minhas dores, sou eu nos meus prazeres, nas escolhas que faço em cada momento. Sou o pecado, os meus pecados! E nunca pedirei perdão de gozar esse pecado que é a minha entrega. Sou filha de deus e do diabo, escolho os meus caminhos, sigo a minha loucura.

A lua vermelha é agora a luz que me ilumina. E, suavemente, as lágrimas deslizam no meu rosto. Tenho na mão uma cesta vazia. Por trás de mim há vozes. São as vozes de um aprendemos! São vozes de um «não vou por aí»! Uma a uma, as vozes chegam-me íntimas num olhar, num sorriso e em flores que vão enchendo o meu cesto. As palavras de um cântico negro são brancas na pureza do sentir. Todas diferentes, as flores têm três anos de comunhão, de lágrimas, de dor, de alegria, de partilha de sorrisos, de aconteceres, de um crescer sempre, têm o querer agarrar a vida no devir.

No meu rosto, as lágrimas brilham de felicidade sob a luz intensa do meu desnudar ali. E as minhas palavras nascem sob esta luz vermelha. Talvez eu… talvez tu e tu… façamos uma mudança no mundo…Talvez eu… talvez tu… encontremos a chave das estrelas e, quando olharmos o céu, só precisaremos de ouvir a voz do coração. Talvez eu… talvez tu… sejamos chama que ilumina. Talvez eu… talvez tu… sejamos a diferença no mundo a construir.

Levanto o meu cesto como um facho. O meu rosto, os meus olhos, o meu corpo enfrentam o vendaval que se levanta noutros olhares. A minha voz afirma a certeza «sei que não vou por aí!»
E sou feliz!