quarta-feira, 18 de novembro de 2009
entardecer @@@
Fecho os olhos com força. Enterro o corpo todo na areia quente. Espreguiço-me desejante. Tenho os olhos quentes deste pôr de sol muito vermelho na minha frente. Os acordes de um bolero longínquo envolvem-me num desejo tão único como o vermelho deste entardecer. A minha pele fervilha já não sei se do calor do sol se do desejo que se acende na minha carne.
O bolero cresce devagar. Aqui e ali os acordes anunciam a chegada de turbilhões de sons na harmonia desconcertada de uma dança de corpos em paixão.
Abro os olhos de repente. As suas mãos estão mais frescas do que a minha pele. Arqueio o corpo de prazer ao som da carícia. Ele ri-se. Rio-me nos seus olhos naquela espécie de timidez atrevida que nasce do desejo. Ele sabe, ele sente. Provoco-o na languidez do querer. Os nossos rostos tocam-se. Os meus lábios são suaves no percorrer da sua pele. Sussurro no seu ouvido, por entre os acordes ainda suaves do bolero, um apeteces-me. Olho-o. Gosto de ver nascer assim o desejo num homem. As minhas mãos percorrem a sua pele também quente de sol e desejo. O bolero entra em crescendo. Aqui e ali o meu toque é um agarrar a carne. Conquisto, lenta, o seu desejo e o meu prazer. Também ele busca em mim esse gozo único da posse.
O bolero cresce e cresce. A minha urgência é a sua urgência. Ora lento ora frenético os corpos tocam-se. Afastam-se num querer respirar. Logo se juntam no dar. Mãos, bocas, pés misturam-se na areia quente do entardecer. Agora o prazer não é lento. Agora a busca faz-se no crescendo da dança de um bolero de Ravel.
As ancas colam-se em movimentos quase frenéticos. Os corpos rolam no querer, cativos e senhores. As mãos soltam-se em desvairadas carícias. Cada vez mais forte, o bolero impõe-se em compassos de entrega ao prazer. O sol afunda-se cada vez mais no mar fervilhante de vermelho.
Abro os olhos para sentir o prazer. E os seus olhos nos meus são chama me querendo. A minha pele queima no receber. O bolero atinge os espasmos finais. Forte, como o ribombar de uma tempestade, os seus acordes entranham-se na carne. Fecho os olhos com força. Sinto o fogo que me invade. Quase grito. O som final do bolero invade tudo num atroar de tambores.
O sol é vermelho. Este silêncio súbito é vermelho. Este bolero tem a cor vermelha da paixão.
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